A dispersão dos espólios artísticos e bibliográficos afectos a colecções particulares ou institucionais de Antigo Regime dificulta, em muito, o seu conhecimento, pelo que a localização de inventários, de marcas de posse em livros, ou de referências bibliográficas/documentais coetâneas, assume enorme importância por nos ajudar a refazer os contextos históricos em que aquelas foram formadas e, ou, enriquecidas, bem como nos informam sobre as vivências e hábitos culturais da corte portuguesa.
No que respeita a história do Livro e da Leitura, no âmbito das instituições patrimoniais, tem-se dado especial atenção, na actualidade, aos estudos na área das proveniências, sendo o “exame dos próprios livros” essencial para a sinalização de “testemunhos ou evidências da posse e uso”[1], vestígios que nos aproximam dos seus anteriores possuidores e das suas escolhas e gostos literários.
Neste contexto, as dificuldades são redobradas quando o objecto de estudo se relaciona com as bibliotecas ou livrarias femininas particulares. Existem, porém, na Biblioteca da Ajuda, diversos testemunhos de espólios bibliográficos integrados no acervo da instituição, ao longo da sua longa história, que pertenceram a damas ilustradas, da família real e não só.
É, pois, no âmbito da História da Biblioteca da Ajuda (BA)[2] e das incorporações efectuadas para o seu enriquecimento, bem como no campo dos estudos de género, isto é, das práticas femininas de leitura, que incluímos este nosso contributo, apresentando, como “caso de estudo”, a Livraria da Rainha D. Carlota Joaquina de Bourbon, cujo códice-inventário ali se guarda.
[1] CAMPOS, Fernanda Maria Guedes, Para se achar facilmente o que se busca. Bibliotecas, Catálogos e Leitores no ambiente religioso (séc. XVIII), Caleidoscópio, 2015, p. 102.
[2] Utilizaremos as iniciais BA para referir a Biblioteca da Ajuda.
Autora:
A. Mafalda T. de Magalhães Barros
Biblioteca da Ajuda
Artigo em Linha nº 14 Dezembro 2025
Artigo em Linha nº 14 Dezembro 2025